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Alfabetização e dislexia: principais dicas para a sala de aula

Alfabetização no Brasil

Nosso país encontra-se em uma situação precária no que diz respeito ao índice de analfabetos funcionais, estando na posição décima primeira de baixo para cima em proficiência em leitura na lista mundial de acordo com o relatório PISA (Programme for International Student Assessment) 2012 publicado pelo IES (Institute of Education Sciences), sendo a Finlândia, atualmente, a primeira colocada. Em junho do ano passado, 63 milhões de adolescentes encontravam-se fora da escola. Atualmente a taxa de abandono escolar está em torno de 25% dos estudantes. No Brasil, apesar dos avanços no desenvolvimento, da existência de 56 pesquisadores de ponta no tema que produzem a cada 3 ou 4 anos 56 novas pesquisas com comprovação científica que favorecem o processo de alfabetização, há uma taxa crescente de evasão escolar e 12 milhões de adultos analfabetos. Minas Gerais é a segunda maior rede educacional do país e a primeira em termos de qualidade de ensino público. Atualmente, no país, os locais que mais poduzem material científico de ponta e promovem cursos, estudos e eventos no tema estão principalmente localizados no interior de SP em Marília, no Rio de Janeiro, no Paraná e em Minas Gerais. O projeto de lei 7081/2010 em tramitação busca garantir que todos os municípios no país deverão de responsabilizar pelo diagnóstico e tratamento da Dislexia e do TDAH. Porém, há um entrave na aprovação desta lei, dentre outros fatores, relacionado ao alto índice de analfabetismo, à ausência de intervenções precoces com estratégias de alfabetização corretas e à falta de formação dos professores para torná-los suficientemente capazes de identificar as crianças que necessitariam de uma avaliação especializada. Este projeto de lei, já impulsionou ações nas Redes Municipais e Estaduais de Ensino no País: Minas Gerais, Interior de SP, Rio de Janeiro e Paraná.

Palestra Literácia e Democracia: José Morais (Bélgica e Portugal)

Dislexia

No mundo, a dislexia varia de 3% a 10% e apresenta-se em padrões diferentes de desempenho. A dislexia é um transtorno específico de aprendizagem/leitura que interfere principalmente na aquisição da capacidade de leitura fluente, podendo estar relacionada também a dificuldades nas capacidades motoras, de escrita, de memória operacional, de funções executivas e de raciocínio sequencial com prejuízo possível nos aspectos cognitivos, emocionais, de aprendizagem e sociais. Estudos atuais apontam como causa da dislexia fatores genéticos com alterações neurofuncionais. Estudos ainda não publicados apontam para possíveis alterações neuroanatômicas (imagens abaixo) e neuroquímicas. Faz-se necessário, no entanto, que se consiga difenrenciar o que são maus leitores, dos casos de dificuldade de aprendizagem e dos transtornos de aprendizagem para se buscar as intervenções específicas e especializadas em cada situação. O diagnóstico definitivo geralmente ocorre após os 8 anos devido a fatores de amadurecimento das funções neurológicas e deve ser realizado por uma equipe interdisciplinar especializada.

Figuras esquemáticas representativas das estruturas neuronais envolvidas no processo de leitura.
Figuras esquemáticas representativas das estruturas neuronais envolvidas no processo de leitura.
Palestra Neural Bases of Dyslexia: Franck Ramus (France – Neuroanatomy of developmentaldyslexia – CNRS, Institut d’Etude de la Cognition, Ecole Normale Supérieure, Paris)

Sinais precoces da dislexia

  • Histórico familiar (40 a 60% dos disléxicos tem pais ou irmãos com dislexia, a base genética tem grande evidência, pois existe a interação de múltiplos genes envolvidos. O irmão não afetado pode ter dificuldades leves de leitura e a história familiar está associada a problemas de linguagem incluindo déficits fonológicos);
  • Alterações de linguagem presentes no desenvolvimento:
    • Fala tardia (menos de 50 palavras aos 2 anos de idade);
    • Transtorno específico de linguagem (incluindo morfossintaxe, semântica, fonologia e discurso – identificado dos 3 aos 5 anos);
    • Distúrbio do processamento fonológico, com prejuízos na:
      • Consciência fonológica (consciência dos sons da fala, rimas ou julgamentos dos sons);
      • Memória fonológica (memória de curto prazo, seguir instruções, aprender palavras novas, segunda língua e repetição de não palavras);
      • Recuperação fonológica (acesso lexical, recordar nomes, nomeação automática rápida);
      • Produção fonológica (palavras polissílabas complexas, trava-línguas).
  • Déficits visuais (via magnocelular, atenção visual, crowding visual, síndrome da sensibilidade escotópica);
  • Déficits associados (dificuldade motora fina e grossa, déficits de aprendizagem processual e disfunção cerebelar);
  • Presença de hiposegmentação (junção de palavras) e hipersegmentação (separação de letras e sílabas dentro da palavra) no primeiro ano;
  • Erros de reversão e rotação no segundo ano.

Enfatiza-se que o déficit no processamento fonológico é um fator de risco presente na maioria dos casos de dislexia, mas nem todos os indivíduos com déficits fonológicos são disléxicos. Outro ponto a ser abordado é que o distúrbio específico de linguagem pode ocorrer sem a presença da dislexia quando não existem dificuldades para repetição de não palavras, nomeação automática rápida ou quando as dificuldades nas habilidades/representação fonológica são leves ou ausentes. Pesquisas recentes sugerem triagem universal em pré-escolares, intervenção precoce e parâmetros de resposta à intervenção.

Palestra Early Identification of Dyslexia (Hugh W. Cats – USA)

Intervenção precoce

A dislexia pode gerar uma cascata de consequências negativas como: declínio e frustração escolar, problemas psicosociais, abuso de substâncias, evasão escolar e/ou delinquências e oportunidades limitadas de emprego. A intervenção precoce pode reduzir significativamente ou limitar estas consequências. É difícil predizer o futuro, muitos esperam o egresso escolar para experenciar os problemas, mas estudos indicam que os sinais da dislexia podem ser identificados antes da aquisição da leitura formal.

Palestra Early Identification of Dyslexia (Hugh W. Cats – USA)

Estratégias favoráveis à alfabetização

O aprendizado da leitura é baseado na decodificação fonológica. Quando existe um prejuízo nesta habilidade, existe um prejuízo maior na discriminação fonema, processamento da letra e no acesso ao léxico. A transparência ortográfica de uma língua afeta a taxa de aprendizagem e a escolha dos métodos de ensino.

  • Dos 5 aos 8 anos ocorre o amadurecimento das áreas cerebrais necessárias ao processo de leitura e escrita;
  • Há comprovação científica de estudos da neurociência que o método de alfabetização baseado em características do método fônico associado a conhecimentos da linguística são favoráveis ao processo de alfabetização tanto para crianças com dislexia como para crianças típicas;
  • Um exemplo de material alinhado com as descobertas avançadas da neurociência, da linguística e da psicolinguística é o Sistema Scliar de Alfabetização composto por um livro com os fundamentos teóricos e um caderno de atividades para os alunos, escrito por Leonor Scliar Cabral, Florianópolis: Editora Lili, 2013;
  • Uma boa sugestão de leitura para os professores: Manual de Estratégias para Dificuldades de Aprendizagem, Capellini, Simone Aparecida – Marília: Fundepe, 2013;
  • Um recente estudo mostra que o espaçamento extra entre as letras pode facilitar a leitura nos quadros de dislexia. (Zorzi M et al Extra-large letter spacing improves reading in dyslexia. Proc Natl Acad Sci U S A. 2012 Jul 10;109(28):11455-9);
  • No site dislexia Brasil www.dislexiabrasil.com.br os professores podem acessar gratuitamente um curso sobre Dixlexia com informações atuais e compatíveis com os últimos estudos na neurociência sobre o tema.
Palestras Input factors of Reading in beginners and dyslexics across different languages (Johannes Ziegler – France)
Mesa Redonda Dislexia Brasil (Leonor Scliar Cabral – Brasil)

O que os professores devem saber sobre a leitura?

  • Ter um bom modelo de como é o funcionamento da leitura;
  • Compreender as mudanças do cérebro da criança na aquisição da leitura;
  • Compreender o porquê a leitura é difícil e complexa;
  • Compreender a arquitetura cerebral – e evidenciar que algumas estratégias pedagógicas são melhores que outras.
Palestra Improving Reading education: lessons from cognitive Science (Stanislas Dehaene – France)

Resumo esquemático sobre a aquisição da leitura

  • A aquisição de leitura especializa uma área cortical para o reconhecimento rápido de sequências de letras (grafemas) e estabelece um vínculo funcional com áreas que codificam para as unidades da fala (fonemas);
  • Inicialmente, as crianças decifram palavras, com esforço analisam as palavras, convertem cada grafema para um fonema, em seguida, “ouvem” e compreendem;
  • A montagem de uma sequência de grafemas em uma série de fonemas não é óbvia para as crianças, por isso esta habilidade deve ser explicitamente ensinada;
  • Ano após ano, como a leitura automatiza palavras, a rota se torna mais direta inconscientemente. Todas as letras são processadas simultaneamente favorecendo o acesso rápido ao léxico e ao significado;
  • Três variáveis principais predizem o sucesso: conhecimento dos fonemas, o tamanho do vocabulário da criança e a presença de livros no ambiente infantil.
Palestra Improving Reading education: lessons from cognitive Science (Stanislas Dehaene – France)

Contribuição da neurociência cognitiva para a aquisição da leitura

  • Ensino explícito das regras de conversão fonema-grafema favorece o processo de alfabetização;
  • Orientação cuidadosa da atenção visual (da esquerda para a direita, sistemática) é uma habilidade importante para o processo de leitura;
  • Aprendizado ativo, associando leitura e escrita de forma concomitante;
  • Prática diária com períodos de tempo intercalados de descansos (sono e cochilos) favorece o aprendizado;
  • A dislexia pode aparecer de várias fontes: fonológica é a central, mas os sistemas de visão ventral e atenção dorsal podem contribuir para os déficits de leitura.
Palestra Improving Reading education: lessons from cognitive Science (Stanislas Dehaene – France)


ABC Aprendizagem
Marieliz Toledo Arruda &
Profa. Dra. Michele Devido dos Santos

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