Orientação aos pais
Como educar com limites
Estabelecer regras e limites aos filhos não é uma tarefa fácil e se configura como um dos grandes desafios da atualidade. A veiculação constante de reportagens e matérias sobre este tema é um indicador do quanto pais e familiares apresentam inúmeras dúvidas e inseguranças sobre como educar com limites.
Os pais tem um papel fundamental na aprendizagem de regras, valores e habilidades sociais uma vez que são o primeiro modelo ao qual a criança tem contato. Por este mesmo motivo costumam ser alvo constante de críticas e questionamentos quando, por exemplo, um aluno apresenta comportamentos indesejáveis tais como opositores, agressivos ou até mesmo delituosos (Del Prette, 2005).
Vivemos um momento da história em que o modelo repressor-autoritário de educar os filhos, tão comum nas décadas passadas, começou a dar lugar a atitudes mais permissivas por parte das famílias. Muitos pais, com receio de “perder” o amor e a estabilidade dos vínculos que mantém com seus filhos acabam por gratificar excessivamente ou ser muito tolerantes com comportamentos inadequados (pequenas mentiras, infração de regras grupais, entre outras). Tal condição pode propiciar a aprendizagem de comportamentos socialmente inadequados que possivelmente serão generalizados para outros contextos além do familiar.
Neste sentido, a permissividade dos pais diante de comportamentos inadequados e a dificuldade de dizer “não” podem gerar, ao longo do tempo, diversos prejuízos para o processo de ensino-aprendizagem da criança e, futuramente, para a inserção da mesma na sociedade.
Estabelecer limites é ensinar à criança aquilo que ela pode ou não pode fazer, em quais ambientes isso é permitido e quais as consequências dos seus comportamentos. Não podemos confundir o estabelecimento de limites com a imposição ditatorial, punitiva e forçada de regras porque corremos o risco de perder o foco da aprendizagem e produzir efeitos nocivos, como o excesso de sentimentos de culpa ou raiva.
Os limites podem ter propósitos variados na aprendizagem de regras sociais como: prevenir acidentes (“andar de bicicleta sem capacete é perigoso, pode se machucar”), ensinar valores familiares (“seja gentil e respeitoso, cumprimente as pessoas”), ensinar quais as consequências do comportamento inadequado (“se você não fizer a lição de casa, então poderá tirar notas baixas”), evitar sentimentos de culpa ou arrependimento devido excesso de agressividade (“você teve atitude hostil com seus amigos, não foi convidado para o aniversário”).
Ensinar um filho a valorizar aquilo que ele tem ou aquilo que ele produz propicia o estado de contentamento, de satisfação e bem-estar decorrente de suas próprias produções, sem precisar achar que o amigo, vizinho ou desconhecido tem algo melhor ou faz algo melhor. Somos diferentes e portando produzimos de forma diferente, as vezes conseguimos alcançar nossas metas e outras vezes não alcançamos o que desejamos e isso pode ser um verdadeiro treino para a nossa adaptação ao ambiente em que vivemos.
Seguem cinco dicas que podem facilitar o uso de limites e regras, baseado em Canaan-Oliveira & Cols (2002) e Bueno & Cols (2010).
- Defina quais limites e regras você quer estabelecer – não existem regras universais uma vez que cada família, grupo ou sociedade apresentam valores, regras e crenças diferentes. Os pais devem estabelecer previamente as regras a serem seguidas para que haja concordância entre o que é pensado e realizado. Também é importante considerar a idade, limites e a compreensão de cada criança.
- Descreva as regras e limites de forma clara e breve – é importante que os pais descrevam anteriormente e de forma clara quais as consequências da não obediência as regras. Isso pode ser realizado por meio de combinados, orientações ou simplesmente uma conversa. A criança que conhece as regras pode sentir-se mais segura e aceitar as consequências de maneira mais colaborativa. A brevidade ao falar sobre temas desconfortáveis para a criança é fundamental uma vez que o desvio de atenção é muito comum. As orientações devem ser realizadas periodicamente pois a aprendizagem é sempre gradual.
- Fale com firmeza e consistência – a maneira como abordará a criança é fundamental: o tom de voz, expressão facial, postura corporal e foco de atenção são variáveis fundamentais para gerar conexão e empatia as regras. Da mesma forma é necessário que os limites sejam ensinados e apresentados com coerência e contextualizados. Os combinados devem ser mantidos para que não haja confusão para a criança. Os pais devem falar a mesma linguagem para gerar um sentimento de continuidade das regras, impedindo possíveis manipulações da criança.
- Não hesite diante do comportamento de sofrimento do seu filho – a criança em desenvolvimento ainda esta aprendendo a modular suas emoções, então diante de um “não” é provável que a mesma reaja com intensidade emocional e frustração. É fundamental dar continência, ter flexibilidade e conseguir tolerar o descontrole emocional da criança, sem reagir com pena ou irritabilidade.
- Elogie e reforce comportamentos positivos – Alguns pais acreditam que a criança tem a obrigação e dever de seguir as regras, sem erros. No entanto a aprendizagem pode ser mais interessante e eficiente quando a criança tem ciência daquilo que se deve fazer (comportamento adequado) e não apenas daquilo que não se deve fazer (comportamento inadequado). O comportamento dos pais pode sinalizar não somente o que está inadequado, mas também evidenciar os comportamentos positivos e acertos da criança. Elogios, atenção social, demonstração de carinho, entre outros são exemplos de reforçadores positivos.Todo comportamento considerado adequado pode ser reforçado positivamente e assim os pais estarão aumentando a probabilidade de que ele se repita no futuro, tornando uma aprendizagem.
Limites e regras bem estabelecidos, claros e consistentes além de oferecer proteção emocional a criança em desenvolvimento, também contribui para que no futuro se torne um adulto socialmente habilidoso em seus ambientes do trabalho, acadêmico e familiar.